sábado, 15 de outubro de 2011

A água quente do chuveiro me abraça inteira. Não deixa um pedaço de pele sozinho.Conforto que eu, ultimamente, não sinto com outros corpos.
Hoje é dia de dormir. Pra não feder no ônibus suado. Pra não molhar os pés no primeiro dia chuvoso da semana. Pra não escorregar na calçada lisa. Pra dormir o que a insônia não deixou. Sem nem escovar os dentes eu fumo aqui no quarto mesmo. A chama do isqueiro é a luz do dia no meu cubículo. Meu corpo ta grudado na cama e daqui só levantei pra mijar umas duas ou três vezes. A pinga é a comida. Dormir é o refúgio. Só é sonho se for diferente do que eu vivo.

Chuva ou sol?

Com esse frio faz tempo que não vejo pele. Aí antes de entrar no banho eu me aproveito demoradamente do espelho grande do corredor. Nossa, meu pé! Tenho que cortar as unhas. Continuo branca. Cor de areia com reflexo de sol forte. E é sempre assim. Eu só me lembro de que esqueci a toalha de banho quando já molhada embaixo do chuveiro percebo que o box está escuro demais. Nublado como a vaga lembrança que agora tenho dele. Às vezes eu acho que não é saudade e sim vontade de transar com um corpo que eu já conheço e que já me conhece. Acho bom assim. Me sinto mais à vontade pra falar e fazer o que o que parece vulgar aos olhos externos, fora da cama. Fora da cama eu tento não volta pra ela nos dias em que falta a vitalidade. Aquela sensação nomeada assim que parece uma explosão de fogos de artifício que acende no estômago e ascende pro peito até fazer bumtataratata. É bom isso, né? Tão ruim sem isso, quando poder viver sem sentimento algum é o que denomino de paraíso. Mas se eu acredito no paraíso? Não, eu acredito na previsão do tempo, isso sim. Tenho que acreditar em alguma coisa, né?
Hoje é dia de dormir.Pra não feder no ônibus suado. Pra não molhar os pés no primeiro dia chuvoso da semana. Pra não escorregar na calçada lisa. Pra dormir o que a insônia não deixou. Sem nem escovar os dentes eu fumo aqui no quarto mesmo. A chama do isqueiro é a luz do dia no meu cubículo. Meu corpo tá grudado na cama e daqui só levantei pra mijar umas duas ou três vezes. A pinga é a comida. Dormir é o refúgio. Só é sonho se for diferente do que eu vivo.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Contraponto

O asfalto é meu tapete vermelho
A ferida coça mas nunca cicatriza
A chuva é minha companhia
Minha melhor amiga morreu
e não foi enterrada
A água evaporou de tanto ferver
A felicidade passou pela minha porta
A cafeína mantém meus olhos abertos
mas ofusca o que eu vejo
Minha droga favorita faz da ilusão, realidade
Espero uma presença
que não é a que toca a campainha
Da xícara agora sai fumaça
No caminho borbulha incerteza
A música ressoa na vida
Os prédios somem na neblina
O inverno mostra o que o verão escondeu

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Monossilábicos

Então, é...
Hum.
Ah, você sabe.
Preferiria não.
E fingir?
Ser feliz na ilusão.
Nossa.
Pois é.
Bem, é isso.
Adeus.

domingo, 14 de agosto de 2011

Me empresta uma caneta?


Uma Bic ainda. É melhor pra escrever nesse guardanapo de bar com cara de sujo, porém limpo. O único bar que abre no domingo aqui nessa cidade fria e que tá doendo. Ainda bem. Fui em vários lugares antes mas era aqui que eu queria ter vindo. Só não sabia disso. Psicodelias me recebendo bem junto com a cerveja gelada de sorriso amarelo. Ela enche meu copo. Ela não precisa do meu sorriso. Ela e eu: caras de quem quer que a vida exploda antes de morrer. E basta isso. E ela não me cobra nada. Não fica sem graça com a falta de assunto verbalizado. É que tá passando muita coisa na cabeça. Minha. Dela. Um abraço no fim da noite bêbada com olhos pretos borrados. Não precisamos da palavra, do som ou do gemido. O gesto. A amizade. Foi o que me manteve em pé hoje.

sábado, 13 de agosto de 2011

Jogo

Um cálice. Duas taças: memórias enfatizadas.
Três taças. Uma garrafa: lágrima.
Uma dose: palavras que nunca são ditas (mas que são pensadas).
Cinco doses: choro e arrependimentos.
Uma terceira bebida: coisas que não deveriam ser feitas.
Soluço: desmaio.
Amanhã: nenhuma lembrança, então vamos começar outra vez.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Só o necessário

O engraçado da vida moderna é que as vezes nós nos deparamos com o inesperado óbvio que se lança diretamente rumo aos nossos olhos e só então nos damos conta: como eu tava conseguindo levar minha vida sem isso? Por exemplo, quando vamos a uma loja dessas que tem de tudo tem muita muita coisa. Há coisas essenciais, ham? Pote de plástico na forma de losango porta-incenso de duende com caminha pra sujeira cair cortina de canutilho pra colocar em frente à porta do quarto porta-lata porta-palito-de-dentes porta-pinças porta-clipes porta-garrafinha-de-água porta-porta porta-torta. Encontramos muitas variedades de objetos indispensáveis também na casa de amigos. Tudo o que é parecido e fica aglomerado vale: garrafas vazias transparentes de vinho perto de garrafas vazias verdes de vinho pétalas ressecadas sem cheiro rolhas lacre redondo vermelho de molhos prontos grudado na porta da geladeira e ah é ímãs de coca-cola e garrafinhas miniaturas de coca cola sem falar nos papéis amarelados dentro de uma gaveta e os bonecos em cima do guarda-roupas. Isso tudo é realmente essencial, ham?

terça-feira, 12 de julho de 2011

Fragmentos de Sentidos

Cheiro de escapamento esgoto um perfume agradável um cheiro quente fedido de centro porco sujo poético imundo gordura quente na saia branca amarelada pernas de fora na sombra frio no sol quente sinal fechado freada corpos trombados encontros falas muitas distorcidas em meio a tantas outras coisas pra ver cheirar comer correr surpresa inesperadamente ocorrida em frente ao teatro música com músicos de rua com músicos de orquestra dia assim simples típico acontecimento urbano.


Cheiro de escapamento esgoto um perfume agradável um.
Cheiro quente fedido de centro porco sujo poético imundo.
Gordura quente na saia branca amarelada.
Pernas de fora na sombra frio no sol quente.
Sinal fechado freada corpos trombados.
Encontros falas muitas distorcidas em meio a tantas outras.
Coisas pra ver cheirar comer correr.
Surpresa inesperadamente ocorrida em frente ao teatro.
Música com músicos de rua com músicos de orquestra.
Dia assim simples.
Típico acontecimento urbano.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Quando duas pessoas sentem a mesma coisa no mesmo momento

É difícil se manter imóvel quando a gente sabe que não precisa ser assim. E os dois tinham clareza disso. É angustiante não entrar pela porta quando ela não está chaveada. E os dois é que não a quiseram trancar. A porta estava mais que aberta, estava escancarada. Como que esperando a ocupação sentimental daquela passagem.
                E o caminho de entrada foi preenchido. Ao chegar à rua de casa ela viu alguém sentado na calçada, à espera. Não, ela não podia acreditar. Era ele! Imediatamente boca seca, rosto quente, borboletas no estômago. Ao vê-la, ele se levantou. Também visivelmente nervoso, ele nada disse. Fez sinal com as mãos de desentendimento, entortou um pouco a boca, desviou o olhar do chão. A encarou.  Olhos femininos assustados e um sorriso. Ele sorriu também. Imediatamente se abraçaram com força, muita força. Encararam-se transbordando de saudade até que suas línguas molhadas de desejo se encontraram. O beijo sincero encheu a boca dos dois. Foi um beijo longo com gosto que beijo de reencontro deve ter: gosto de boca, gosto de saliva.
                - Eu senti tanto a sua falta.
                - Eu também, eu também. Doeu muito.
                - Doeu demais.
                Os dois subiram para o apartamento dela, para o quarto dela. Jogaram as mochilas em qualquer canto. De pé se encararam novamente. Ela tirou a camiseta dele. Acariciou-lhe o peito fortemente. Era um toque com pressão de quem sabe o que quer, de quem sentiu muita saudade. Ele pôs as mãos com leveza no rosto dela deixando-as deslizar pelo pescoço, seios, barriga. Ah, ela com o cheiro dela! Sem blusa, sem sutiã. Ele admirou aqueles dois seios cheios e levemente caídos, arrepiados de tesão. Os apertou com delicadeza. Abraçaram-se novamente e mais uma vez se beijaram. Um abaixou o zíper da calça do outro e soltou os botões.
                Agora ambos estavam completamente nus, desarmados. Quando se está nu perante o outro não há o que esconder, não há por que esconder.  Nem mesmo as palavras que nunca foram ditas. Dois corpos nus e juntos são cúmplices. Nem mesmo as palavras que nunca foram ditas:
                - Eu nunca tive medo dos seus segredos, eu nunca tive receio de ficar com você. Eu nunca quis não estar com você.
                Pelados e apaixonados. Ela a olhar o corpo dele. Ele a olhar o corpo dela. Os dois se admirando mais uma vez.
                - Encosta teu corpo nu no meu.
                Entrelaçados, ela estava dentro dele e ele estava dentro dela. Excitados, eles gemeram de prazer. Apertavam-se e mordiam-se sem outra forma de conseguir exteriorizar a intensidade daquelas sensações todas que lhes tomavam a pele e o sentimento. Tesão. Intensidade. Intensidade. Intensidade. Intensidade. Foi assim até o gozo. Ápice! Gozo! Gozo! Gozo!
                Cansados, com os corpos completamente relaxados, mas abraçados.  Ofegantes eles se olharam. Sorrisos mútuos. É, depois de tanto tempo eles ainda se entendem, ainda se querem. O que mudou do fim para o novo começo é que nem ela e nem ele camuflam qualquer sentimento ou qualquer vontade. Agora eles não são sinceros só um com o outro, são sinceros para si mesmos também.

domingo, 10 de julho de 2011

Self

Eu me surpreendo comigo mesma. Eu me espanto as vezes, entendeu? EU ME espanto. Eu, que pensava estar feliz.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Expectativas

Para que isso acabe
E eu não espere por você
E não deseje te ver
Para que eu não queira te encontrar por acaso
Para que eu não busque o nosso entrelaço

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Carência

Me esquenta com teu corpo afetuoso antes que o frio enrijessa o meu sentimento
Qualquer prazer é qualquer se não tem o que sinto amor
Qualquer prazer é qualquer se não tem o que sinto, meu amor
Qualquer prazer é qualquer se não tem o que sinto: teu amor


Me acalma com tua doce palavra antes que eu me perca naquilo que não sei
Fica do meu lado para que eu não me assuste com a solidão
Com as pontas dos teus me acaricia a minha pele nua
Me abraça forte antes que a gente adormeça


Mas fica comigo, meu bem, só se isso quiseres.
Mas fica comigo, meu bem, só se quiseres isso.

Boa Noite

Ontem quando eu fui dormir
descobri que adormecer é o mais agradável do dia
Depois de cansar de chorar
depois que meus olhos se esverdearam
depois que meu rosto não podia mais inchar
Eu cai no sono
com lágrimas escorrendo no travesseiro
Eu dormi com o rosto molhado
e a alma acabada
Eu dormi com o corpo pesado
e com a dor machucada
Eu adormeci e, ah, como foi bom!
Nada no que pensar
Nada com o que se preocupar
Ninguém por quem me lamentar
Sem pesadelos.
Mas sem sonhos também.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Diálogo

- Porque me olhas tão calado?
- Penso no que te dizer pra não te perder.

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A gente também se faz na falta.

O Calor do Inverno

      Não há certeza, não há previsibilidade. Assim é a vida, assim são as relações. Por isso ele estremeceu ao vê-la depois de um mês. Ela também estremeceu.
     Se encontraram repentinamente na curva de uma esquina, na escuridão de uma noite fria. Ruas de paralelepípedos sujos. Neblina que aos poucos deixou aquela ingênua beleza feminina aparecer. Nevoeiro que logo o mostrou. Desarmado. Desamparado. Ainda apaixonado.
     Ela tentou fingir por um momento que ali já não havia nada. Nem uma emoção, nem um sentimento, nem um afeto. Mas o afago não deixou. O olhar firme logo se desmanchou. Apareceu o susto e o espanto de tal encontro tão inimaginável acontecer justo na noite mais fria. A expressão de dúvida e confusão sumiram por detrás da boca que levantou no lado esquerdo e do sorriso que apareceu nos olhos dela. O afago. Seus dedos finos e suas unhas vermelhas tocaram-lhe o rosto. Um leve carinho que se iniciou perto dos olhos dele, morreu no queixo com vontade de nascer na boca. Vergonha. Timidez. Tímida diante da pessoa com quem mais teve intimidade. Tímida perante a intimidade que já existiu.
    Fins de relacionamentos são injustos com os sentimentos. E com as vontades. Também com o costume. Sempre há um pouco de comodidade nessa paixão toda. Mas o estranho é o estranho mesmo. Ora compartilhar imensa intimidade e cumplicidade. De repente completos estranhos. Não ser mais com o outro. Ser sem ele. Sem ela.
      Ele gostou daquele carinho. Percebeu a mão delicada e gelada de inverno morrer no seu queixo. Queria que ela tivesse morrido na sua boca. Queria morrer na boca dela. Queria, como nunca deixou de querer, o gosto da saliva dela. Gosto de puro beijo. Sorriu sinceramente. Chegou mais perto. Ele não sabia se as bochechas dela estavam rosada por causa do vento invasivo ou do reencontro.
     Eles tentaram se manter neutros, mesmo depois da visível felicidade, da imensa vontade, da clareza no olhar.
     Se abraçaram. A rua estaria em silêncio não fosse pelo rápido gemido de conforto que ela mostrou por estar com ele. A rua estaria em silêncio não fosse pela respiração emocionada que ele não conseguiu disfarçar. A luz amarelada do poste fazia uma única sombra na parede. Agora que ela não via o rosto dele e ele não via o rosto dela as expressões se sentiram livres para dizer o que eles preferiram esconder.
     A sombra não era mais uma só. Dois corpos que se amaram inúmeras vezes. Duas pessoas que ainda se querem. Um último olhar. Um adeus. A certeza de que não é o último olhar, o adeus. Ela seguiu reto e ele também. Vontade de outro reencontro inesperado. Vontade do beijo que não aconteceu. Mas eles não olharam pra trás.

terça-feira, 21 de junho de 2011

domingo, 19 de junho de 2011

sábado, 18 de junho de 2011

Tropeço

Tenho tomado pouca água
Não tenho saído pra correr
Não tenho olhado o céu
Há tempos não vejo um filme
Há meses não leio um livro que quero ler
Tenho me distraído pouco
Esquecido de ligar em casa,
de parar de beber,
de fazer o trabalho
Tenho me preocupado tanto
que não tenho vivido também.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Noite

Não sei se são meus sentidos, mas o alarme do prédio demorou mais pra começar a tocar depois que entrei pela porta de vidro. Quando percebi, foleava páginas em branco do meu caderno naquela aula que tinha acabado há pouco. Já não aguentava mais olhar pro professor cansado e pra colega chata com cara de conteúdo. É... quando vi, meu amigo quis saber pra onde eu estava olhando. Mas eu não olhava lugar nenhum. O filme se passava na minha cabeça. E eu pensava na cabeça, na tristeza, na moleza, na fraquezana esperteza (que não tenho), na desdenha na senha!!! A maldita senha que esqueci. Cartão bloqueado. Bolso furado. Coração despedaçado.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

E agora?

Como faz? Pra deixar passar, pra esquecer, pra não se entorpecer.
Ouvir um ruído e não se afobar.
Não esperar a ligação que não chega.
O que me disse aquele olhar?
Não desejar a palavra doce.
Não querer, não querer.
Reticências são incertas...
Pontos finalizam a história.

domingo, 12 de junho de 2011

Código surpresa

Às nove da manhã o interfone. Flores pra ela. Um código. Uma brincadeira secreta de dois. Os números naquele cartão significam o que ele quis dizer pra ela. Significam a história dos dois. Só ela sabe o que está escrito. É só ela que pode entender essa brincadeira. Esses números. A representatividade daquilo que eles não sabem muito bem o que é. Nem sabem muito bem como está. O que eles sabem é que eles sentem. Ela sente. Ele sente.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Coreografia do ritmo

Passou rápido a hora.
Você já não está mais aqui
As folhas secas do chão já acabaram
Minha música preferida parou de tocar


Passou devagar a hora.
O velório perdura
A anestesia insiste
Essa aula nunca termina


Passou rápido a hora.
O ônibus já chegou
Já são três da tarde
O salário já caiu


Passou devagar a hora.
O ônibus ainda não chegou
Ainda são três da tarde
Cadê meu pagamento?

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Cotidiano

Tudo foi pelo chão. Não por causa de uma catástrofe, um terremoto, obra divina ou qualquer evento (sobre)natural que foge ao controle humano. Tudo estava quebrado, esmagado, torto. Tudo por causa de uma ação humana. Ação essa guiada por uma fúria. Não um furacão, uma fúria. Apesar de que aquela fúria era digna de um furacão e de ventos em velocidade extraordinária. Mas era só raiva mesmo. Só uma raiva dominadora que quebrou todos os copos do armário e arrancou algumas páginas de alguns livros. Nada demais. Alguns socos na boca do outro, pontapés na canela, cortes de faca afiada na barriga, órgãos removidos e olhos furados. Algo normal. Corriqueiro. As páginas de Maurice Merleau-Ponty, Dostoiévski e Florbela Espanca pousavam no sangue ou eram furadas por balas de revólver. Mas tudo ainda estava bem porque o retrato de Jack (o estripador) continuava com fisionomia tranquila. Quando ele, o Jack, se espantar, aí sim é hora de parar.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

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Fui retomar num pensamento anterior o que te digo agora: a gente sempre caminha na incerteza.
Penso isso que vou falar aqui: nem todo caminho é tão incerto quanto esse.
E o que é lindo também dói.

Dois

Pela janela dos meus olhos
Te vejo
Tô tentando te dizer uma coisa
mas não sei como
Pela porta do meu olhar
Te admiro
Quase te contei um segredo meu
e outro nosso
Pensei ter encontrado a melhor frase
mas ela não diz tudo
Nada pode dizer
mas meus olhos podem traduzir
Nada pode falar
mas meu olhar consegue demonstrar

domingo, 29 de maio de 2011

Contínuo susto

Se perdeu no próprio pensamento
Por ele é ferida e
por causa dele, chora
O irreconhecível dentro de si mesma
É estranha perante o espelho

sábado, 21 de maio de 2011

Tentativas

      Demorei pra perceber a presença do carro de altos faróis que cegavam meus olhos claros, contraindo minhas pupilas. Agora que o entendi, quase desviei. Mas penso que talvez um possível atropelamento possa me relembrar o que é emoção.
      Demorei pra perceber a presença do carro de altos faróis que cegavam meus olhos claros, contraindo minhas pupilas. Agora que o entendi, quase desviei. Mas penso que talvez um possível choque com um veículo que corre na rua estreita mirando meu peito possa me possibilitar um súbito, rápido e assustado suspiro. Mas não.
      Demorei pra perceber a presença do carro de altos faróis que cegavam meus olhos claros, contraindo minhas pupilas. Agora que o entendi, quase desviei. Mas penso que talvez o iminente choque repentino com aquele carro me traga alguma novidade.
      Demorei pra perceber a presença do carro de altos faróis que cegavam meus olhos claros, contraindo minhas pupilas. Agora que o entendi, estou com medo. Me assustei. Desviei.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Agora

15 minutos para a próxima aula numa sala que todos olham o que eu vejo, o que eu procuro, escrevo. O anúncio de uma reunião que eu não esperava. O barulho do ônibus. O barulho da maltida reforma que não acaba. Alguém com dor de cabeça. Eu. Muita coisa pra pouca vontade.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Tristeza

Camuflo os motivos por não querer falar deles
Seguro a lágrima pra não admitir
Ignoro a dor
Finjo a melhora
Me escondo no sorriso
Respiro palavras que não são ditas

sábado, 14 de maio de 2011

Tanara

Tudo tão intenso
Tanto tempo, mas tão pouco tempo
Trágico desfecho
Tensão
Imensidão
Teologia é tolice!
Tento tudo
Tento mesmo?
Tento mesmo!
Teoria é trabalho
Tanara é trânsito.
Turbulento. Mas transfigurador.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Coragem

Minha cabeça,
meu objetivo e
minha ação.
Um, dois, três.


O começo é o impedimento do começo.

Minha cabeça.
Meu objetivo.
Minha ação.
Um.
Dois.
Três.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Pesar

Quando eu fui procurar o... lembrei que tinha esquecido de ir lá. Ultimamente eu só me lembro do esquecimento. Lembro do que foi esquecido por mim. O que deixei ir, embora sem querer deixar passar. O que foi. Verbo conjugado em tempo passado. Cabeça que pensa agora no momento não vivido, abandonado. Nem ao menos forjado, não. Largado. Evaporado de tanto que esperou. Sumiu porque não teve. Não houve porque não aconteceu.

domingo, 1 de maio de 2011

Interrogação

Perante a incerteza do acontecimento futuro
me preocupo, mas desfruto
tenho medo
é inseguro.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Saudade

Não deu tempo de acabar com a saudade.
Ou de se acostumar e senti-la de novo
De achar que ela se foi...
Assim como a folha vai embora com o vento
e as palavras desaparecem no queimado
Da mesma forma que um anel some no ralo
e a água escorre nas mãos
Não deu tempo de acabar com a saudade.
Ou de não senti-la mais
De achar que ela se foi...
Assim como a fome aparece todo dia
e o frio me arrepia os pêlos
Da mesma forma que o beijo fica no lábio
e a vontade não some, não some
Não deu tempo de acabar com a saudade.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Fuga

Procuro pelo o que sei, já perdi. Busco aquilo que já me convenceu de, uma vez, desistir. Gosto do gosto de um doce que, sim, sempre me faz mal depois. Tateio na memória um corpo que, não, não é mais só meu. Ainda tenho medo daquela sala no fim corredor. Prefiro assim. Algo pra me emocionar. Sempre penso se haverá, ou não, um telefonema no fim do dia. Gosto assim. Alguma coisa pra me preocupar. Penso na quantidade de cascas de ovos que caem, sem querer, na massa do bolo. Olho todos dias em que nível está a água no vaso da planta. É pra ter o que controlar. Me pergunto quantas vezes já cruzei nas ruas com esse mesmo olhar. Me encho de pensamentos. Assim, tenho com o que me ocupar. Quando quero me enjoar olho pra mesma imagem horrível. A coloco de volta na gaveta e só retorno à ela quando quero vomitar. Planejo detalhadamente meu dia. Quem sabe, um evento quebra minha rotina.

terça-feira, 19 de abril de 2011

De ânsia

Ah, essa ânsia! Isso aqui que tá aqui não sei como, isso que vem não sei de onde, não sei por quê. Ah, essa ânsia! Isso que me fere e me fascina, que quero e abomino. Ah, essa ânsia! Da contradição. De ser dua. Duas. Numa, uma. Ah, essa ânsia! De falar não sei o que, não sei como. De vomitar essa reverberação. Vontade de explodir. Alguns milhões de pedaços que separados não são mais eu. São qualquer coisa que o não-eu. Só o não-eu me possibilita a negação do eu. Do... "Posso me deitar nessa chão? É só porque preciso esticar meu corpo." Com ele meu intrínseco segredo. Minha vontade de vomitar o que não quero. O que quero pra fora. Ah, essa ânsia. Se cria na expectativa e nela se fixa, se concretiza. Pra não tirar de mim. Pra não sair.

Não Identificação

Entendo o que é o querer e quero fazer
Chego perto da ação, recuo
Busco, procuro
Achei
Parei
Fiquei
Retorno, busco, procuro
Acho.
Acho que quero e
acho que não quero
Acho que um dia soube mais de mim

terça-feira, 12 de abril de 2011

Momento

9 minutos pra te ver
e o resto pra tentar te esquecer
7 horas pra chegar
e o que sobra pra descansar
3 dias num ônibus
e o resto pra conhecer
1 semana de espera
e uma conversa pra descobrir
3.600 segundos numa ligação
e o que sobra pra pensar
21 anos de vida
e mais 2 de terapia pra me aceitar
1 rápido orgasmo
uma eterna sensação
1 tarde de limpeza
e um descuido pra sujar
7 anos de estudo
1 folha pra comprovar
um suspiro devaneio
e o resto pra se culpar
30 segundos pra aguar
e o que sobra pra crescer
1 dia pra ter coragem
e o resto pra se arrepender

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Necessidade

Depois de três anos do falecimento do meu ramister resolvi que não dava mais para ficar depressiva e solitária numa casa de 789m². Era preciso realizar algo importante. Barras de chocolate já não eram mais tão eficientes. Sim, é assim que substituo minahs relações humanas. Doei então minha mansão de Miami para uma ONG que cuida de crianças órfãs e me mudei para uma fazenda no Brasil. Lá, eu comecei a cuidar de animais silvestres em extinção. Claro que só fui ao fornecimento de pessoas e admiti a ajuda dos biólogos por não entender nada de reprodução sexual de aranhas ou habitats de pássaros pequenos e cantantes. Afinal, não estou tão necessitada de presença de pessoas. O fato é que apesar do tempo presente do verbo da frase anterior, já faz oito meses que cá estou em contato com a natureza e nada em mim mudou. Cansei. Vou transferir esse terreno para os biólogos e pesquisadores que lotam esse lugar e vou para a Índia. Fui. É difícil meditar, encontrar a paz interior, essas coisas, sem poder dormir num travesseiro de penas de ganso. Ao menos consegui superar a perda do leilão de um vaso da Renascença Francesa por causa de um maldito infarto da mãe do meu motorista. Depois dessa também, foi despedido. Não dá pra trabalhar com alta periculosidade. O fato é: cansei da Índia também. Será que há lugar no mundo que consiga me fazer feliz? Repleta, realizada, íntegra, inteira, sensível, simples, chique, refinada e autêntica? Enquanto passo noites em claro a pensar nesses tormentos me renovo a cada quinze dias com pequenas comprar nas ruas romanas.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Escuro Preciso

Se logo cedo meu corpo é lento e minha mente é preguisoça
À noite eu posso até dançar uma valsa
Cantar Caetano
Escrever um poema
Pensar em você
Correr pela rua
Perceber o que existe

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Obrigação

O despertador. Sono. Soneca. Sono. Saio da cama. Engulo um pão com manteiga e viro o café. Ônibus cheio de gente tão mal-humorada quanto eu. Acho que hoje eu quase apanhei no ônibus. O cara não se mexeu pra eu sair. "Meu, eu tenho que ir". Ele quase me bateu. Acho que ele quase me bateu. Sorriso pro chefe que me dá um outro amarelado em troca. Ele pode. Eu não. Telefonemas. Contatos. Recepções. Falo com pessoas o dia todo, mas não converso com elas. Olho pra muita gente na rua, mas não as vejo realmente. 30 minutos pra comer uma marmita fria que trouxe de casa. Água pra descer. Tem mais umas 5 horas pela frente. Café. Não, eu nunca saio no meu horário. Dizem que tenho um tal de banco de horas, mas não sei em que cômodo ele fica. Nunca o vejo. Cobrança. Café. Discussão na sala ao lado. "Sim, chefe. É pra já!". Se ao menos eu pudesse ver dessa janela alguma coisa que não fosse concreto. Concreto. Concretude das trocas humanas. É, porque eu não posso chamar isso de relação. Isso, essa coisa casual e precisa. Atrasado pra estudar a noite toda uma coisa que nem sei se gosto. Desembrulho o bolo de fubá. Compro um café no meio do caminho. Queria gostar de chá. Volto num ônibus abafado. Chove lá fora. Janelas fechadas. Feições fechadas. Tédio. Olheiras minhas e alheias. Vontade. Algo que não seja necessidade?

terça-feira, 29 de março de 2011

Sono

Os olhos enxergam
cinza
sem cor
pela metade
Os olhos
abaixam
caem
ficam morteiros
O rosto
murcho
frouxo
A cabeça alentece
O corpo
mole
pesado
Um corpo gravitacional

segunda-feira, 28 de março de 2011

quarta-feira, 23 de março de 2011

Imediaticidade

Nas calçadas, passos apressados
Nas ruas, carros congestionados
Buzinas me desorientam
Passo pela lanchonete
Ouço as garrafas que o entregador quebrou
E eu nem me viro para olhar
Uma mulher caiu no chão
E eu nem parei para ajudar
O sinal ainda está vermelho
E o ônibus nem pra me esperar
Da calçada para a rua, passos largos
Vejo crianças cansadas,
presas em cadeirinhas nos automóveis
Me olham morteiras
Corro mais um pouco
Uma bicicleta passa rápida por mim
Tropeço e o moço ao lado não desvia
Caio no chão
Fico
Me demoro a levantar
Pergunto as horas
O taxista não me diz
Vejo as placas
Não me encontro
Procuro pessoas
Não as reconheço
Busco você
Te perdi
Acho que conheço essa praça
Não sei onde estou

terça-feira, 22 de março de 2011

23:00

Como um peixe aberto e despedaçado que o restaurante de temaki abandonou para fora do lixo, ele estava ali. Jogado. Rompido. Com o ânus e a moral ferida. O bueiro recebendo todo o sangue grosso e fedido. Um homem forte e grande, dono de passos calmos, se afasta tranquilamente do jovem corrompido. Enche seu pulmão de nicotina e devolve, na fumaça, para a cidade, sua sensação de bem-estar maior. Desaparece na neblina da rua vazia. Deixa sua vitória forçada, exigida e roubada. O cara do chão continua sem calças. E sem dentes. O pênis ralado na calçada parece um pedaço de pano velho que caiu do penúltimo andar e está esquecido no telhado da garagem. O vento frio contribui para o aumento da ardência no rasgo da barriga. O que era garoa, agora é chuva forte. Pingos grossos e pesados intensificam o frio. Se misturam com o suco pastoso de sangue. Escoam pela calçada suja. Os olhos pretos e grandes de pessoa pequena saem arregalados de dentro do carro estacionado. Sim, há um carro na rua ao lado do jovem. Ele esteve ali o tempo todo. Com a porta do passageiro aberta. O tempo todo. Como duas jabuticabas enormes e maduras aquele olhar infantil talvez ainda tenha alguma ingenuidade. Sem saber o que fazer ele repousa ao lado do corpo morto. Deita sem relaxar. Espera o que não vai acontecer.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Sintoma de alegria

E se pudéssmos voar
E se o mundo parasse pra se abraçar
Imaginar o infinito
Viver a felicidade
E se existisse a verdade
Uma palavra sincera
O pote de ouro no fim do arco-íris
A pele que não cai
A paixão que não acaba
A meia que não fura
A louça que não suja
O ônibus que eu não perdi
E se a guerra nunca existiu
Se a bolsa nunca caiu
a terra nunca secou
e a comida nunca estragou
E se a queda não machucasse
e a bala não ferisse
O pote de ouro no começo do arco-íris

terça-feira, 15 de março de 2011

Á Luz da Lua

Depois de um dia penoso o que ela mais desejou foi ver a lua cheia. Na noite refrescante de céu recheado com estrelas, a lua se mostrou. Nenhum pouco tímida. Estreitas nuvens acamavam a lua sem cobrir o seu brilho branco. Então ela, não a lua, depois de pisar na grama e atravessar a sala de casa se despiu no banheiro. Se libertou da roupa pesada e sentiu percorrer pelo seu corpo cada fração de vento úmido. Os pêlos de seu corpo se eriçaram num arrepio delicado, confortante. A claridade que tomou conta do banheiro se fez unicamente pela generosidade da lua. E ela, não a lua, não poderia ter desejado ser banhada por algo mais poético.

quinta-feira, 10 de março de 2011

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Folha em branco
Caneta em diagonal
Cabeça em processo
Momento de microcefalia
e macrocefalia subjetivas
Diferentes neurotransmissores
para diferentes palavras
As sinapses as unem
O poema se concretiza
sem limites reais
A materialização dele
muito me apetece

quarta-feira, 9 de março de 2011

Confusão

Está aqui, está guardado, revirando-se em mim. Fervendo em perguntas e dúvidas meu pensamento vai e volta, vai e volta. Se repete como as ondas do mar. Se repete, então, na diferença, na novidade, na velocidade. Tão rápida esta que preciso me concentrar pra saber o que realmente se passa dentro da minha cabeça. Dentro do meu coração. Com os meus sentimentos. Com as minhas escolhas. Minhas verdades. Verdades? Não, minhas decisões. Minhas vontades. Uma dualidade idiota. Um fato que fere meu mais íntimo desejo, meu maior prazer. Uma música que se repete. Uma onda elétrica que percorre cada centímetro de mim. A sensação de sentir tudo o que há para ser sentido. A sensação posterior do vazio. Tudo. Nada. Tudo. Nada. Vai. E volta. O mar. O meu. Eu.

domingo, 6 de março de 2011

Elisa

Desmonta seu guarda-roupas
e eu me despedaço junto
Faz a sua mala
e eu me faço em tristeza
Leva as suas coisas
e eu me perco junto delas
Me abandona a sua presença
Faz-se a falta
A presença da falta
A presença do que já não tenho
A tua ausência
O meu olhar caído
O meu sorriso amarelo
O seu encanto distante
A saudade manifesta

quinta-feira, 3 de março de 2011

Aconteceu

Um encontro de dois
Uma rua encurvada e deserta
Árvores aliviam a tarde quente
Os dois corpos se olham frente a frente
Onde deveriam ter carros
Os olhares se unificam
Só se ouve respiração e gozo
Duas línguas se lambem
Agora um estalo agudo e molhado
Já não se sabe o que é saliva
e o que é chuva
Apenas o prazer
Apenas o desejo

quarta-feira, 2 de março de 2011

A Maior Vontade

Esses dois copos cheios de bebida. O meu e o seu. Este banco, esse banco. Sua respiração e a minha. Seu cheiro que me amolece e me arrepia de desejo. Esses olhos. Ah, esses olhos!
Esses dois copos meio cheios, meio vazios de bebida. O meu e o seu. Este banco. Esse banco. Sua respiração ofegante. O cheiro de whisky que vem da sua boca e me embebeda.
Esses dois copos vazios de bebida. O meu e o seu. Este banco, esse banco. Esse agora tão perto deste. Seus olhos semi abertos e essa boca ousada que me faz querer ir com você.
Nós dois. O tapete bonito do restaurante do hotel. O elevador. O tapete bonito o corredor do hotel. A porta do quarto. Eu e você. Essa cama tão desejada. Eu e você. Este travesseiro. Esse travesseiro. O meu e o seu. Se já não estivéssemos roncando eu até que desligaria a luz do abajur.

terça-feira, 1 de março de 2011

Um Lugar

Num centro sujo esteticamente cinematográfico pra quem vai escrever um texto como esse o cheiro de cachaça impregnado na roupa alheia de dois dias atrás se mistura com o bafo quente de cigarro que sinto na boca de quem passa. Multidões socadas se permitem encostar generosamente nos corpos vizinhos para conseguir um lugar no ônibus ou pelo menos nele entrar. A igreja em reforma abriga os ratos que logo vão migrar para o boteco ao lado. As calçadas desiguais enganam os pedestres que sentem arder suas narinas com o fedor invasivo da urina que algum bêbado ou até um morador de rua deixou cair pesadamete ali, aqui. O cheiro agudo piora quando uma velha exala seu perfume doce de quem está pronta para ir ao bingo. As estátuas das praças já não se enjoam com o odor deixado pelas pombas em suas cabeças cor de bronze carcomido e assistem o primeiro beijo tímido de um casal; e também o fim da história de outros dois. Elas imaginam o que aconteceu com o menino que levou bronca do pai e se comovem com o choro daquela mulher. Aquela que ontem mesmo passou por ali entupida de craque berrando por causa de um homem. Os prédios altos, sujos e escuros ao competirem com outras arquiteturas escondem o último sexo sem consentimento ocorrido na cidade. Eles abrigam os sujeitos expulsos de uma rua em revitalização. A felicidade boba de um estudante sortudo que ganhou cachaça em dose tripla do dono do bar se confunde com a amargura de um recém desempregado que acaba de chegar para com o jovem dividir o balcão. A música pesada de um bar underground encontra a reverberação do samba de raiz que diverte mais alguns na mesma rua. Eu canto o que eu vejo. E eu vejo diversidade. Eu escrevo o cheiro que entope meu nariz. E eu respiro putrefação. Eu falo do que eu sinto e isso não é tão singular assim. Medo, interesse, pavor, curiosidade, repulsa e vontade. Um turbilhão numa caminhada. Uma imensidão num minuto. Diversas magnitudes num lugar.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Do-ente

Não é osso, rim ou fígado
Não é doença, paralisia ou infecção
Não aparece em exames, radiografias ou tomografias
Não é de causa biológica, do corpo ou do sangue
Não, não é
É da mente, é do ente
Um psicossomático que me derruba
bate
joga
definha
e define